Em meus sonhos, a névoa da praia se dissipou, dando lugar a um quarto familiar. Minha irmã estava lá, radiante, com um pequeno embrulho nos braços. Seus olhos, marejados de lágrimas, me fitavam com ternura, e cada gota que caía sobre meu rosto parecia queimar minha pele.
“- Carol…”, ela sussurrou, a voz embargada pela emoção.
Tentei responder, mas minha voz não saía. Meus braços se ergueram involuntariamente, buscando alcançar o pequeno ser que ela carregava.
“- É uma menina…”, minha irmã continuou, um sorriso iluminando seu rosto. “- E o nome dela é Carol, como você.”
Carol… Minha irmã havia dado à luz uma menina, e a chamara pelo meu nome. A revelação me inundou de alegria e confusão. Tentei abrir os olhos, mas as pálpebras pareciam coladas.
“- Maninha…”, murmurei, a voz fraca e distante. “- Me deixe vê-la…”
Mas minha irmã não respondeu. Ela apenas se aproximou, e pude sentir o calor do pequeno corpo da bebê contra o meu. O cheiro de talco e leite me transportou para o passado, para os tempos em que minha irmã era apenas um bebê nos braços de nossa mãe.
Um desejo irresistível me dominou: eu precisava pegar aquela menina nos braços, sentir seu calor, proteger sua fragilidade. Estiquei meus braços novamente, tateando o ar em busca do pequeno corpo.
“- Por favor…”, implorei, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto. “- Me deixe segurá-la…”
Mas a imagem da minha irmã e da bebê começou a se desfazer, como uma pintura apagada pela chuva. Aos poucos, elas desapareceram, me deixando sozinha na escuridão. Acordei com o coração apertado, a saudade da minha família me sufocando.
“- Eu preciso voltar…”, murmurei para o vazio do quarto de hospital. “- Preciso ver minha irmã, preciso conhecer minha sobrinha…”
A esperança de um reencontro me impulsionava, me dava forças para lutar contra a escuridão que ameaçava me envolver. Eu precisava acordar, precisava voltar para a vida, para o amor da minha família.