“- Mas eu não entendi direito…”, murmurei, confusa e intrigada.
Contei a Fátima sobre César, sobre nosso relacionamento conturbado e seu súbito desaparecimento do sonho. Ela ouviu em silêncio, com um olhar de compreensão e tristeza. Sem dizer uma palavra, pegou um espelho e o colocou diante do meu rosto.
Meus olhos se arregalaram em choque. O reflexo que me encarava era o de uma mulher mais velha, com rugas marcadas pelo tempo e cabelos grisalhos. Uma lágrima solitária deslizou pela minha face, deixando um rastro de incredulidade e dor.
“- Que dia é hoje, Fátima?”, perguntei com a voz trêmula.
“- Hoje é 23 de julho de 2024, Carol.”
2024? Como isso era possível? O acidente, a ambulância, o hospital… tudo parecia ter acontecido ontem. Senti um aperto no peito, a ficha finalmente caindo.
“- Não… não pode ser…”, murmurei, as lágrimas agora jorrando livremente.
A verdade era dura demais para ser aceita. Anos haviam se passado, e eu estava presa em um limbo entre a vida e a morte, sem ter consciência do tempo que se esvaía. A dor da perda de César, a saudade da minha família, o medo do desconhecido… tudo se misturava em um turbilhão de emoções, me levando a um choro convulsivo.