A chuva torrencial fustigava o asfalto, o som das gotas se misturando ao caos do trânsito. Apertei a sacola com o presente do César contra o peito, tentando protegê-lo da água que ameaçava invadir cada fresta. Meus sapatos novos, agora encharcados, emitiam um som de choro a cada passo.
“Droga!”, murmurei, desviando de uma poça que mais parecia um lago. “Preciso encontrar uma loja de sapatos, e rápido!”
Mas o destino, como sempre imprevisível, tinha outros planos. Um grito agudo perfurou o ar, seguido pelo guincho estridente de pneus. Meu corpo foi lançado para frente, como um boneco de pano, e uma dor lancinante explodiu em meu braço.
Caí no chão, a cabeça latejando. O gosto metálico de sangue invadiu minha boca. Apertei os olhos com força, a mente inundada por memórias.
O rosto sorridente do César, seu abraço caloroso… As noites de risada com André, seu olhar gentil…
A sirene da ambulância se aproximava, cada vez mais alta. Senti mãos me tocando, vozes distantes. E então, como um filme passando em câmera lenta, minha vida se desenrolou diante de mim.
As brincadeiras de infância, os primeiros amores, as decepções… Tudo parecia tão distante, tão irreal.
Pensei no César, na surpresa que ele teria ao receber o presente. Mas, estranhamente, a imagem de André se sobrepôs à dele.
“Carol, você está bem?”
A voz de André, tão familiar, tão reconfortante.
Senti uma necessidade urgente de segurar sua mão, de sentir seu calor. De ter a certeza de que ele estava ali, comigo.
“André…”, sussurrei, a voz fraca. “Preciso de você.”
E então, tudo escureceu.