Após aquele dia na praia, o amor que eu sentia por André, antes tão intenso e seguro, se tornou uma névoa densa e confusa. Era como se o chão tivesse sumido sob meus pés, me deixando à deriva em um mar de incertezas.
Mesmo assim, continuei a gostar dele, a desejar sua companhia. Mas algo havia mudado. Seus olhares, antes tão calorosos, agora me causavam um arrepio na espinha. Suas palavras, antes tão doces, agora soavam como enigmas a serem decifrados.
“- Carol, você está diferente.”
“- Diferente como, André?”
“- Não sei… Mais distante, mais pensativa.”
“- É só impressão sua. Estou ótima.”
Forcei um sorriso, tentando disfarçar a angústia que me corroía por dentro. Mas André não se deixou enganar. Seus olhos azuis me perscrutavam, buscando desvendar meus segredos.
“- Tem certeza que está tudo bem? Pode me contar qualquer coisa, sabe disso.”
“- Está tudo bem, André. Juro.”
Desviei o olhar, incapaz de sustentar seu escrutínio. A verdade era que eu não sabia mais o que sentir, o que pensar. O amor que eu tinha por ele ainda estava lá, mas agora misturado a uma dose de medo, de insegurança.
Decidi então que precisava ser mais observadora, mais atenta aos seus sinais. Comecei a anotar em um caderno tudo o que ele dizia, fazia, sentia. Cada gesto, cada palavra, cada olhar era cuidadosamente registrado, como se eu estivesse montando um quebra-cabeça complexo.
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“André ficou irritado quando mencionei o nome do César.”
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“Ele parece desconfortável quando falo sobre nossos planos para o futuro.”
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“Hoje ele me olhou com um misto de desejo e tristeza.”
As anotações se acumulavam, formando um mapa confuso de suas emoções. Eu tentava encontrar um padrão, uma lógica, mas tudo parecia contraditório e enigmático.
No fundo, eu sabia que estava apenas adiando o inevitável. Em algum momento, teria que confrontá-lo, perguntar o que estava acontecendo. Mas o medo da resposta me paralisava. E assim, continuei a observá-lo em silêncio, esperando que a verdade se revelasse por si mesma.