Lembro-me de uma noite em especial, durante uma dessas viagens com André. Estávamos exaustos, acabados de tanto caminhar e explorar a cidade. Ao chegarmos ao hotel, caímos na cama, um de frente para o outro, os pés se tocando na cabeceira.
Nossos olhares se encontraram, e um sorriso brincou nos lábios de André.
“- Sabe, Carol, nunca pensei que um dia estaríamos assim, tão próximos.”
“- É verdade, André. Quem diria que acabaríamos dividindo a cama em uma viagem de trabalho do meu namorado.”
“- Seu namorado não precisa saber de tudo, não é mesmo?”
André se aproximou, seu rosto a centímetros do meu. Seus olhos azuis brilhavam com uma intensidade que me fez prender a respiração.
“- Me dá um beijo, Carol.”
Sua voz era um sussurro rouco, carregado de desejo. Fiquei paralisada por um instante, o coração acelerado. Então, uma risada nervosa escapou de meus lábios.
“- André, você está louco! Somos amigos, lembra?”
A expressão de André se fechou, a alegria dando lugar a uma tristeza profunda. Seu olhar se perdeu em algum ponto distante, como se estivesse mergulhado em seus próprios pensamentos.
“- Desculpa, André. Não quis te magoar.”
“- Tudo bem, Carol. Eu entendo.”
Mas eu sabia que ele não entendia. Sabia que minhas palavras o haviam ferido, que haviam criado uma barreira invisível entre nós.
Naquele momento, me senti dividida. Amava o César, mas não podia negar a atração que sentia por André. Ele era meu melhor amigo, meu confidente, a pessoa que me conhecia melhor do que ninguém.
E ali, naquela cama, com seus olhos tristes me encarando, percebi o quanto ele significava para mim. Senti uma vontade imensa de abraçá-lo, de beijá-lo, de esquecer o mundo lá fora.
Mas a imagem do César surgiu em minha mente, me lembrando de meu compromisso, de minha lealdade. E assim, fiquei ali, paralisada, dividida entre o amor e a amizade, sem saber qual caminho seguir.