Depois do dia escuro em que o formoso nasceu, a luz do sol não voltou a Vlaadmerka. Em seu lugar, um nevoeiro denso cobria tudo…
O que se dizia por toda a região era que a beleza do formoso era tamanha que fez o sol ficar tímido e se esconder.
Resfor era o formoso, com seus grandes olhos negros em forma de amêndoas, sua boca pequena e delicada, assim como suas mãos e pés. Seu pequeno corpo mais parecia um desenho de quadro, uma obra de arte viva. Mesmo o maior dos pintores da época não conseguiu retratar com um mínimo de fidelidade o formoso, nem mesmo o seu nariz, pequeno e afilado, apontado para o céu.
O povo começou a se dividir, pois o tempo passava e nada do sol voltar. As plantações estavam morrendo e as aves do céu não mais sobrevoavam Vlaadmerka.
– Viva aos porcos! gritavam do Castelo do Conde, zombando de todos aqueles que não gostavam da falta de sol…
Os porcos invadiram Vlaadmerka, e todos se alimentavam apenas deles durante aqueles dias. Porcos também eram chamados aqueles que reclamavam da situação da cidade, que acabou ficando conhecida naqueles dias como “A cidade abandonada pelo sol”.
A situação tornou-se crítica. Sem o sol, as colheitas fracassavam e o desespero começava a tomar conta dos habitantes. A escuridão e o nevoeiro constantes criavam uma atmosfera de opressão e incerteza.
No entanto, no meio dessa crise, Resfor, ainda um bebê, tornou-se um símbolo de esperança e resistência. Embora a sua beleza fosse tida como a razão do sol se esconder, muitos começaram a vê-lo como uma figura mística que poderia trazer a luz de volta a Vlaadmerka.
Sheera, agora a mãe respeitada do formoso, sentiu o peso dessa responsabilidade. Com Seh-ja ao seu lado, eles decidiram que precisavam agir.
– Não podemos deixar nosso povo morrer de fome e desespero, disse Sheera. Precisamos encontrar uma maneira de trazer o sol de volta.
– Concordo, respondeu Seh-ja. Vamos consultar os sábios e buscar respostas nas antigas profecias.
E assim, começaram uma jornada para descobrir a causa da escuridão e como reverter a maldição que havia caído sobre Vlaadmerka. Eles convocaram os maiores sábios e místicos da região, buscando entender os segredos ocultos nas lendas antigas.
Enquanto isso, a divisão entre os habitantes crescia. Aqueles que eram chamados de “porcos” se rebelavam contra a elite, acusando o conde e sua família de serem a causa de todos os males. A tensão dentro da cidade aumentava, e a liderança de Seh-ja e Sheera era constantemente desafiada.
Em uma noite particularmente escura e nevoenta, Sheera teve um sonho. Nele, uma figura luminosa apareceu e falou com uma voz suave:
– O sol se escondeu por causa do coração do formoso. Ele deve ser levado à Montanha Sagrada e apresentado ao espírito da luz. Somente então o sol voltará a brilhar sobre Vlaadmerka.
Ao acordar, Sheera contou seu sonho a Seh-ja, que viu nele um sinal claro. Prepararam-se para a jornada à Montanha Sagrada, levando Resfor com eles. A viagem foi difícil, atravessando terras sombrias e enfrentando perigos desconhecidos.
Quando finalmente chegaram ao topo da Montanha Sagrada, a luz da figura apareceu novamente. Sheera e Seh-ja, com Resfor em seus braços, apresentaram-no ao espírito da luz.
– Este é o formoso, disse Sheera. Traga o sol de volta a nossa terra.
O espírito da luz sorriu e tocou a testa de Resfor. Uma luz intensa emanou do bebê, dissipando o nevoeiro e iluminando toda Vlaadmerka. O sol voltou a brilhar, as plantações começaram a se recuperar e as aves retornaram aos céus.
O povo, vendo o retorno da luz, comemorou e reconheceu a liderança de Seh-ja e Sheera. A cidade, que antes era “abandonada pelo sol”, agora florescia com uma nova esperança e prosperidade, graças à coragem e determinação da família real.
E assim, Resfor, o formoso, tornou-se não apenas um símbolo de beleza, mas também de renovação e esperança para todos em Vlaadmerka.
– Cristiano Ricardo